João Alves da Silva

 
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João já trabalhava na fazenda quando perdeu o pai, aos oito anos. Mais velho de três filhos, aprendeu apenas o básico da leitura e da escrita entre uma safra e outra nas propriedades de Garanhuns, em Pernambuco. Mais importante era ajudar a mãe, Sinhorinha, a dar botar comida na mesa.

Naquele horizonte limitado de possibilidades teve a sorte de conhecer, e de se apaixonar com o ardor dos jovens, por Rita, também ela trabalhadora e moradora de uma dessas localidades. Ambos davam duro para ficar com metade das colheitas. Foram cinco as crianças do casal, todas filhas daquela terra.

Nos intervalos entre cada nascimento passou a viajar para São Paulo atrás de um outro horizonte para aquela família em expansão. Foram muitos anos de idas e vindas em pau de arara, cruzando estradas ruins por semanas e voltando meses depois com dinheiro e muitas histórias.

Eventualmente fez a viagem definitiva, a família a tiracolo. Rita, acostumada ao serviço na roça, trabalhou por um tempo em uma indústria. João ainda atuou em uma propriedade rural em Araçatuba antes de ser funcionário em uma fábrica da Brahma e finalmente tornar-se frentista. Aposentou-se nessa função, a caixinha fazia a diferença.

Para os filhos foi um pai ausente nos primeiros tempos, em meio às muitas viagens à cidade grande atrás de trabalho e de sustento. Depois esteve pouco presente por causa da extenuante rotina no serviço. As crianças, já matriculadas na escola, geralmente dormiam quando ele chegava em casa. Talvez por reconhecer essa lacuna, empenhou-se em se reaproximar depois de aposentado. Chegou a adotar uma sexta filha, Flávia, com a esposa. Cuidou dela como sua e esteve lá para se despedir quando ela foi levada por um câncer.

Na velhice pode enfim aproveitar mais a vida, curtindo a casa de praia em Mongaguá - presente de um dos filhos - os cinco netos e cinco bisnetos. Ficava semanas lá com a esposa e chegou até a se mudar por um tempo, mas a saudade que sentia deles não permitiu distâncias maiores. Passava o tempo feliz fazendo pequenos reparos na residência e se virava como pedreiro e pintor sem conhecimento específico, na base da inteligência.

Nem a artrite, a artrose e o tumor que teve na cabeça foram capazes de pará-lo completamente e se sobrepor à sua natureza ativa. “Ele deixou muitos exemplos para todos pela sua luta, sempre o admiramos por isso. Se não fosse por ele ainda estaríamos na roça, sem conseguir estudar e fazer o nosso caminho. Ele achava que não tinha feito mais que a obrigação, mas a verdade é que foi um lutador”, conta o filho Antônio.

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